Arte é o que você quiser

Há alguns anos atrás, quando um jornalista perguntou a razão pela qual a obra My bedinstalação que trazia sua cama desfeita, coberta de objetos como remédios, calcinhas usadas, camisinhas e drogas espalhadas ao redor do móvel - era considerada uma obra de arte, e se a cama do próprio entrevistador também poderia ser arte, a artista Tracey Emin retornou a provocação: "A sua não é arte porque você nunca disse que era ou sentiu que fosse. Eu vi minha cama como uma obra de arte e senti que realmente era. Eu disse que era e a mostrei como tal. Eu transferi o que senti a respeito para os outros admirarem. Esta é a alquimia, a mágica. Eu sou a pessoa que tem de estar convicta do que é arte em primeiro lugar".



Tracey Emin é considerada um "tesouro nacional inglês", um dos maiores nomes da arte britânica e membro do "Young British Artists", grupo formado no final da década de 80, do qual o polêmico Damien Hirst também fazia parte.  E chegou a este posto ilustre valendo-se da própria vida como objeto de criação. Fazendo das tragédias pessoais, dos amores e da própria intimidade - um espetáculo para ser apreciado como obra, aberta a visitações para o público que ousar entrar em seu universo.

Visceral, sexual e muitas vezes desconcertante, Tracy ganhou uma das maiores - se não a maior - exposição restrospectiva de seu trabalho até o presente momento, em cartaz até 29 de agosto, na Hayward Gallery. Sob o título de "Love is what you want", a mostra traz dezenas de peças, que tecem uma narrativa da existência (desajustada) de Emin. Da vida na pequena cidade de Margate, ao estupro que sofreu aos 13 anos de idade. Dos amores fracassados ao aborto que fez aos 18 anos, da família de origem Turca, à solidão e o passar dos anos - a artista tira todos os esqueletos do armário. Como ela mesma diz, em busca de um entendimento de tudo. 





Na exposição, há as séries de cobertores com aplicações de retalhos que formam frases catárticas - tais como "I do not expect to be a mother, but I do expect to die alone" - seguida das famosas séries de néons, além de instalações, vídeo-artes, textos narrativos escritos à mão e algumas obras de gosto duvidoso, como  as caixas de acrílico que guardam absorventes internos, com o que creio ser sangue envelhecido.  A artista parece determinada a oferecer ao público a experiência de estar na pele de Tracey Emin. Não há barreira entre espectador e criador, a arte está no cotidiano, e é o que você quiser que seja. Existe a máxima que defende que "arte é para ser sentida e não compreendida" e, nesta exposição, ao público só é dada esta alternativa. Vale conferir.



Tracey Emin: Love is what you want (http://www.loveiswhatyouwant.com/)
Aberta todos os dias, das 10h às 17h
Em cartaz na Hayward Gallery (Southbank Centre, Belverdere Road, London SE1 8XT) até o dia 29 de agosto.
Ingresso: 12 libras.




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