Enganou-se. Não uma nem duas, mas todas as vezes. Enganou-se sobre si. Enganou-se sobre os outros. Era tanto engano, que nem sabia que o engano, de fato, era a vida que vivia. Foi tão enganada que, ao dar-se conta, teve medo de não ser quem achava que era. Temeu por toda a história que havia escrito até ali. Temeu que os conhecidos fossem estranhos, e que até seu nome fosse outro. Sentiu-se vivendo uma farsa. Mas por não ser uma farsa lá assim, tão ruim, acomodou-se. Para quê, de fato, ir buscar a verdade? Com que propósito queria ela ser a precursora do inédito? Enganou-se sim, mas quem, respirando entre o céu e a terra, não vive enganando, a si mesmo e aos outros? Quem de nós quer saber, de fato, da insignificância própria ou alheia? Logo percebeu que se deixou ser enganada, pelo seu próprio bem e pelo bem de todos, e que não era crime entrar no jogo. Fingiu ter uma vida, fingiu ter um emprego, fingiu ser talentosa em algo, fingiu que queria ver o mundo, fingiu que foi útil aos outros, fingiu que amadureceu e fingiu que sua vida fez algum sentido. Tudo para enganar a morte. A única que, esperta como ela só, nunca se engana.
O fato de eu ter me identificado com cada palavra significa?
Significa só isso: "ai me abraça, alexandre...ai me abraçaaaaaaaa...(escorrendo pela parede)