Parabéns pra...pra quem, gente?

Se tem coisa que me constrange é festa de aniversário. O meu próprio aniversário. Eu não sei em que momento da minha vida eu aprendi que ser dono de uma festa de aniversário é uma das situações mais desagradáveis que alguém pode experimentar - mas a questão é que algo de muito errado acontece quando eu vejo gente reunida para comemorar o simples fato de eu ter nascido. 

Primeiro, que vamos combinar, aumentar a idade é uma coisa deprê, gente. Todo mundo fica feliz de fazer aniversário enquanto ainda é pequeno, porque a festa ainda tem graça, nossos pais pagam tudo e a galera não tem medo de abrir o bolso para dar presente bacana. Nessa época também você tá pouco se lixando se a galera tá gostando do cachorro-quente com molho frio que a tua mãe fez, ou do branquinho tão empolado que mais parece um sagu – obra da tua tia. O importante mesmo é que o disco da Xuxa- Volume 5 tá bombando na vitrola, "as gente velha" tudo misturada com a criançada, e não há problemas: você ganhou milhões de roupinhas para a Barbie, dois queridos pôneis e um cachorro de pelúcia. Se a tua festa tá uma porcaria, há outras coisas mais importantes para você focar naquele momento. 

Mas o tempo passa e as coisas mudam de figura. Primeiro a gente entra na adolescência, onde a comemoração sempre acontece num rodízio de pizza barato e de quinta, metade dos teus amigos não levam mais presente e os parentes já não sabem mais o que te dar de regalo, entregando num pacotinho rosa uma camiseta tamanho oito infantil da Hello kitty, quando na verdade o que tu mais queria era uma blusa preta com um decotão para sair nas boates. A festa sempre acabava com um pratinho cheio de resto de pizza com ketchup, palito de dente e sal derramado decorando as sobras, enquanto o resto das mesas olha com cara de nojo para vocês, bando de adolescentes barulhentos e sem modos. 

Depois que a gente vai ficando mais velho, a coisa segue degringolando ladeira abaixo, e as comemorações ficam assim: ou você faz aquelas reuniõezinhas mornas com duas ou três amigas que deixaram os maridos vendo o jogo do grêmio no pay-per-view, ou faz um festão (geralmente em datas arredondadas, como 50 ou 60...) e tudo vira constrangimento quando aquela tua amiga bêbada abre a “pista de dança” do salão de festas do teu prédio e te puxa pela mão para reviver os passos de twist ao som de Renato e seus Bluecaps. 

Isso sem falar na desgraça que é o sentimento de obrigação em estar feliz só porque aquele é o “teu” dia. Sempre tem aquele sem noção que liga e, ao que tu diz “alô” , o babaca da outra linha prontamente berra “PARABÉÉÉNS A VOCÊ...”. Aí você fica escutando que nem uma naba toda essa preciosa canção, agradece gentilmente, e tem de escutar ainda: “AAAHHH, tá ficando velho, hein? Cadê a animação? Quando vai ser a festinha?”. 

É por essas e outras que acho que aniversário não deveria ser um evento anual, e sim acontecer em cada ano bissexto. Sabe como é, né? Porque eu penso no próximo e acho importante ser solidária com os sortu... coitados que só podem comemorar o birthday de seis em seis anos. Vamos abraçar essa causa, gente? Me liguem quando o ano tiver o 29 de fevereiro, tá? Combinado. Lancei a campanha.

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