Ó, vou confessar: eu nunca me considerei uma menina de muita sorte nessa vida. Nunca ganhei nada, nunca fui sorteada nem pra ganhar copo de caipirinha em rifa de ONG, quanto mais para algo que realmente fizesse diferença na minha vida. Mas esse ano, eu vou ter que concordar que tem alguém dando uma forcinha no meu mapa astral. Afinal, para uma fã ensandecida, ter a honra de ver não apenas um, mas dois shows do Paul McCartney em menos de quatro meses, é algo que eu achava que só aconteceria quando eu estivesse dormindo. Mas cá estou eu, bem acordada, e com ingresso da pista premium na mão para ver o Macca, dia 7 de novembro em Porto Alegre.
“Ah, tá! Porto Alegre!”, foi a frase que eu disse, em tom de desdém, quando começou o bafafá em torno da vinda do Paul para o Brasil e – pasmem ainda mais! - para a capital gaúcha. Eu, que em junho tive a chance de ver, em Londres, o show do Paul (situação que eu jurei que seria a primeira e única vez na vida que iria acontecer!), franzi a testa para quem me jurava de pé junto que ele ia tocar pertinho aqui de casa, no Beira Rio! Afinal, há muito rolava o boato de que o Paul viria para estas bandas, e eu nunca acreditei que algo deste porte (um beatle. O beatle. O parça do Lennon, oh my god!) pudesse acontecer aqui do lado do meu quarto. Mas e não é que pode?
É bom que eu diga que foi preciso estar com o ingresso em punho – com direito a espera de NOVE horas na fila, virando a madrugada – para eu dizer em voz alta “Ok, o Paul vem mesmo. E eu sou uma moça de muita sorte”. E assimilar a situação. E depois que eu aceitei o fato é que me dei conta: tem gente que ainda não deixou a ficha cair. Ou quer se fazer de forte e não se emocionar numa situação dessas! Paul McCartney em Porto Alegre!
Há muito que eu defendo que o Paul era o melhor beatle. E digo isso sem desmerecer a genialidade de nenhum dos quatro, pois todos eram, gênios à sua maneira. John era o artista nato, o criador dos clássicos psicodélicos, a alma torturada e criativa. George era a força intimista e a guitarra impiedosa, e Ringo - me batam, se quiserem! - mas é um dos melhores bateristas que esse mundo já viu, além de pateta (no bom sentido!)do grupo. E tem o Paul.
O Paul foi o cara que começou de fato os Beatles (foi por ele que George entrou para a banda), foi ele que abriu mão de tocar guitarra e migrou para o baixo, quando ninguém mais na banda queria arredar o pé. Também foi o cara que disse para o mundo que os Beatles terminaram, e o último a abandonar o navio de fato. O Paul é o mestre metódico por trás de cada acorde, o chato que insistia para que todos se esforçassem, para que permanecessem juntos (vale ver as filmagens das gravações de Let it be). O Paul é o mais careta dos Beatles (nunca foi o que mais “transcendeu”, se é que me fiz clara) e ainda assim, o mais capaz de confiar apenas no perfeito equilíbrio – entre talento nato e método – para compor dezenas das mais lindas e mais regravadas músicas (Yesterday é a canção com mais covers da história!) que existiram. A lista é infinita... Elenor Rigby (que ele compôs e tocou para a gravação quase sozinho), Penny Lane, Fool on the Hill, The long and Winding Road, dá para passar horas contando...
Ele nunca foi rockstar, no sentido poser da palavra, e mesmo sem afetação nenhuma não é possível fechar uma mão de músicos vivos (e grande parte dos mortos, vale dizer!) capazes de superar a sua maestria. E apesar disso, sempre senti que para muita gente, ele era o segundo Beatle, logo abaixo do John. Para mim, talvez ele seja o primeiro porque soube levar, ao longo da carreira, o melhor de cada um dos quatro rapazes de Liverpool em sua essência de artista. Artista com A maiúsculo, diga-se de passagem. O que a gente vai ver em Porto Alegre é um Show com letras também maiúsculas, sem grandes efeitos de pirotecnia, baseado apenas em algumas das melhores músicas de todos os tempos.
E aí, caiu a ficha? Nos vemos lá!