Mil formas de ser rejeitada na era digital


Dia desses eu me peguei saudosista, pensando em como era bom quando só havia uma mão cheia de possibilidades de você se sentir rejeitada. As rejeições aconteciam pessoalmente, algumas vezes por telefone e, quisá, por carta ou bilhete. Em plena era digital, tudo ficou mais dúbio, e o pior, ampliado à décima potência. Atualmente, há (pelo menos) mais de um milhão de possibilidades de você sentir as mãos frias da rejeição batendo à sua porta, dado que pode ser elevado ao quadrado se aplicarmos esse número a pessoas que, como eu, têm um talento nato para sentir-se um enjeitado.

O Twitter, por exemplo, é o maior teste de auto-estima e segurança a ser exercitado diariamente. Uma vez aberta a maldita conta na rede social, não só tenho de ter uma vida interessantíssima para avisar, de cinco em cinco minutos, o que acontece nela, como também tenho de parecer bem informada para repassar freneticamente links com o que há de melhor de notícias na rede. Tudo isso, para arrecadar o maior número de transeuntes dispostos a me seguir nessa empreitada.  Por um mês, tive cinco seguidores. Não há nada mais frustrante do que admitir que, fosse sua vida um seriado, o programa seria cancelado na primeira semana por baixa audiência. “Saí para comer um xis com o @franja”. “Menstruada. Saí para comprar Modess”. É tanta coisa interessante para postar que logo, dos poucos seguidores que você consegue reunir, três desistem no meio do caminho. Você abre o profile do twitter e está lá, jogado na sua cara que o número de pessoas que te seguem hoje é menor do que ontem. É mais ou menos como dizer: “Você não me interessa mais”. E quem, meu deus, consegue lidar com a rejeição de ser ignorado por gente que mal te conhece, mesmo que sejam estranhos como a @butiquedoprazer e o @20ver?


Tarefa mais sádica do que essa, aliás, só a de lidar com aquele amigo que você encontra no twitter, começa a seguir e, por alguma razão, ele não te segue também. “Ok” você pensa, “ele não deve ter percebido que eu estou seguindo ele”,  repetindo a frase para si mesmo em voz baixa, inocentemente. Você dá um tempo, na vã esperança de que a falta de reciprocidade seja apenas um engano. Duas semanas se passam e nada. Tentando ser discreto na próxima investida, você decide responder algo que ele escreveu, elogiando, na ânsia de que assim ele note a gafe do unfollow. Mais uma vez, a rejeição. Por fim, em uma manobra agressiva e desesperada, você passa a retuítar freneticamente toda e qualquer frase que ele publique, conseguindo não só que a pessoa não te siga, mas também que te bloqueie dos seguidores. Logo, fica claro que as chances do seu amigo te dar um follow, são as mesmas que a Demi Moore querer te seguir.

Os tempos podem ser outros, mas as regras para popularidade são as mesmas e há uma grande possibilidade de que, se você não é nem nunca foi popular, provavelmente não será agora. Se você era último a ser escolhido no jogo de handball na aula de educação física, difícil crer que você será primeira opção na vida virtual. É questão de carisma, e isso se vê até na tela de um computador. Li dia desses uma matéria que dizia que o Twitter é uma rede social diferenciada, pois você não segue as pessoas por amizade, e sim porque o que elas têm a dizer te interessa. “Por isso, não é para levar para o lado pessoal quando amigos, conhecidos ou até estranhos não estão te seguindo”...mas como não levar para o lado pessoal, se essa explicação é baseada na simples equação: quanto menos seguidores = menos interessante você é? E essa matemática, até eu que sou péssima com números, faço de olhos fechados.

Basicamente, o Twitter é o meu mais novo trauma. Porque não importa o quão modernas e despretensiosas fiquem as relações virtuais, uma coisa é fato: minha auto-estima ainda é analógica.

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