Coisas que você só lê aqui (porque só estão em mim).

Eis que percebo que a mim não interessa a notícia, não interessa o que é fato. É a ficção que me esquenta a alma e é ela que me tira o sono. Não quero histórias que eu não posso inventar, nem personagens que não falem exatamente o que eu desejo. Quero o controle absoluto do destino na ponta da minha caneta. Eu, ditadora da minha ficção, comandante absoluta de dezenas de universos particulares, não vejo porque contar frivolidades alheias – as que não posso conduzir – ao invés de saborear o prazer do cotidiano que se esconde em mim.

Esse exército de gente, louco pra sair, louco pra ter voz, ansioso por um cantinho no spotlight. Gente que me implora por um rosto, um nome e um corpo, munido de voz para dizer as maiores disparidades, as maiores inverdades e também um punhado de coisas sãs - que muita gente de carne e osso até pensou - mas faltou um je ne sei quois pra dizer. Uma população inteira que se joga aos borbotões na minha mente, competindo pra ver quem será o batizado da vez, a me contar todas as histórias que um dia esperei ouvir factualmente e, obviamente, nunca vi em lugar nenhum.


Sendo elas assim, criaturas que sublocam algumas veias em mim, posso garantir a integridade de seus relatos e mais do que isso, afirmar que são fontes fidedignas da mais pura realidade ficcional. A minha realidade ficcional. Que mais posso eu fazer senão escutá-las? Porque confiaria eu, às mãos de transeuntes de fora, a enorme expectativa que sinto em ouvir de alguém exatamente o que eu quero escutar, ou até mesmo o que eu não quero, mas preciso ver pronunciado?

Não! Deixo o que acontece do lado de fora a ser relatado por quem não tem mais o que escrever em si. Uns vão dizer: “preguiça!”. Outros então, vão torcer o nariz. Mas como posso fugir dos acontecimentos e desvarios transcritos na minha própria pele? E aviso: não pense você aí, parado com a sobrancelha franzida em riste, que sustento a versão de que as minhas notícias são mais importantes que estas aí, feitas por gente com pressão arterial 12 por 8 e temperatura de 36 graus debaixo do sovaco. São fábulas que só interessam a mim, mas humanas e pessoais como são, devem despertar o interesse de um ou outro exemplar humanóide por aí.

Se me permitem, esqueçamos os fatos. Vamos à ficção.

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